Alerta do sexo apaixonado
Eu não gosto de admitir isso, porque em diversos momentos da minha bobíssima vida, eu quis me convencer do contrário, mas fazer sexo com quem você está intimamente conectado - apaixonado - é absolutamente diferente de fazer sexo com outra pessoa qualquer.
Não sei se meu desgosto por esse fato vem de um histórico extenso de transas, sem sentimento, das quais eu precisei me convencer de que eram genuinamente boas pelo meu medo de admitir que eu acreditei, por anos, que nunca mais iria me apaixonar. Pode ser também um desgosto desenvolvido a partir de uma insatisfação contra o demográfico autodeclarado demissexual, que erroneamente e inconsequentemente tenta se encaixar no guarda-chuva da minha linda comunidade LGBTQIAPN +.
De uma forma ou de outra, a verdade brilha pelo corredor escuro da descrença. Eu estou apaixonada, e eu estou fazendo um sexo novo…
Se eu tivesse que descrever as camadas que constroem essa novidade, citaria as quatro que mais me afetam:
Primeiro, sem surpresas, acredito que a mudança mais esperada entre um sexo apaixonado e um sexo casual é o despejo de palavras e promessas românticas. Naturalmente fala-se durante a transa, uma palavra de encorajamento, um xingamento, um pedido, um aviso… Claro que a comunicação sensual de putaria é intrínseca no ato - quando o ato é recíproco, consentido. Digo isso para que não pensem que eu enxergo a vagabundagem extinguida do sexo apaixonado, jamais compactuaria com o fim dela em nenhum momento da minha vida.
Entretanto, em tom contrário (ou complementar, ou balanceado), no sexo casual não há necessidade e, muito menos, a vontade de dizer, olhando olhos nos olhos, as coisas mais românticas, íntimas juras de amor, elogios de alma e afins. Durante o sexo apaixonado é apenas uma reação automática ser repetitivo ao esclarecer o quanto aquela pessoa é significativa, especial, perfeita etc.
Além dessa novidade óbvia, trago um questionamento sobre a qualidade da diversão que se tem num sexo apaixonado. Vejam, transar cheio de tesão com uma pessoa legal, educada, limpinha e que possui minimamente um humor, é divertido. Quem não gosta de fazer algo durante o sexo que gera uma alegria mútua, a vontade de continuar, de se levar ao limite, de levar o outro ao limite, até de fazer uma piada ridícula pra manter o astral lá em cima?
Como eu disse no outro tópico, a diversão não é exclusiva do sexo casual. Ela é uma carta mais rara, que nem sempre vai aparecer, porém ela não é edição única de colecionador. O que me surpreende é que, num sexo apaixonado, a diversão é garantida. Ela não desaparece, ela não é esquecida, não há um clima ou um gatilho inesperado que vá tirar ela de você - a não ser uma tragédia, ou algo muito fora da curva, que eu bato agora 3 vezes na madeira para evitar. Transar apaixonado deixa os olhos brilhando, numa euforia quase que ingênua de que o mundo é lindo, e nada fora da cama é capaz de interromper tal magia. É uma diversão mais mágica.
Em sequência, trago um aspecto mais pessoal meu, que muitos de vocês podem até não corresponder, e isso é apenas natural. Por muitos anos eu só me permitia transar alcoolizada. Frase impactante de efeito, eu sei, porém bem verdadeira e desmistificada.
Não é difícil entender que o álcool nos deixa desinibidos e nos permite mais do que o nosso discernimento in natura permitiria. Em termos leigos e redutistas, há quase um acordo entre a eu bêbada e a eu sóbria, uma situação meio Hannah Montana/Miley Cyrus. Certamente não tão exacerbada, a ponto de uma percepção de mundo bêbada só existir na ausência da percepção de mundo sóbria, ou vice versa, por exemplo. Mas um acordo de honestidade e constrangimento, de impulsividade e coragem. Em poucas palavras, bêbada eu me liberto e abraço meus instintos sexuais iniciais sem a mesma retaliação que reproduzo sóbria. Nesse momento que estou apaixonada, mesmo estando sóbria, eu me sinto bêbada de tesão. Similarmente, mesmo estando bêbada, há uma sobriedade e consciência nas minhas decisões durante o sexo apaixonada.
Finalmente vou trazer a diferença que mais tem me atormentado. Enquanto mulher, nunca fiz questão de compreender o tal “prazer” de transar sem camisinha como um homem faria. Tenho memórias de estar com um ex meu na maldita Praça da Cantareira, lá pelas últimas horas da noite, e um amigo dele nos chamar para um canto e perguntar se teríamos camisinha para doá-lo. Como uma mulher loba preparada, eu puxei da bolsa a carteira e entreguei a ele um par, pro qual o amigo reparou.
“Você prefere essa marca?” Ele perguntou.
“Qual diferença tem pra ela, po?” O meu ex respondeu.
Eu pensei, na época, como pensava até antes de me apaixonar. De fato, por mim *inserir macaquinho de perna cruzada*, desde que exista a proteção e a dignidade no sexo, o modelo da camisinha tanto faz!
Só que, ao amar, tudo muda. Vem bomba aí. Minhas amigas Vivi e Lara já me confessaram sentir o mesmo ao iniciar o relacionamento heterossexual com seus respectivos namorados. Posso confirmar que compartilho: no calor do momento, não queremos usar a camisinha!!!!!!!!!!!
Para essa verdade, eu posso buscar explicações indevidas e ridículas sobre possessividade, também sobre instinto, provavelmente posso associar a uma vontade de agradar o parceiro ao liberar o suposto “prazer de fazer no pelo”, posso associar ao sexismo propriamente dito… posso dizer muito sobre. O que eu escolho como justificativa que menos vai fazer a minha cara arder de vergonha hoje, é a praticidade de ter o momento da transa intocado. A praticidade de estar ali patética de tesão, disposta pro que vier, ansiosa ainda… e poder simplesmente deixar rolar sem se preocupar com onde enfiou a porra da embalagem.
Afinal, o que é mais sensual do que permitir que o sexo aconteça ininterruptamente, espontaneamente?
Ops… eu acho que sei o que é mais sensual do que isso!
Não se trata de moralismo, mas de responsabilidade comigo e com você que está lendo este bando de bobeira. É ainda mais sensual e interessante, divertido e romântico, ter certeza de que o sexo a ser praticado é um sexo seguro! Seja apaixonado ou não!
Por isso, hoje durante o dia eu chamei meu namorado para fazer comigo um teste gratuito de IST, no lindo postinho de saúde mais próximo da faculdade. Esse pedido veio de uma necessidade de preservação, porque gostaria de poder fazer sem a camisinha aqui ou ali com a consciência mais limpa. Também veio, porque meu último teste foi há muito tempo, e antes de dever a qualquer pessoa, eu devo a mim mesma esse cuidado. Além disso, veio porque gostaria de mostrar ao meu parceiro que existe um comprometimento meu com a minha saúde, com a dele, e ensiná-lo que eu vou me preservar daquilo que pode ser um perigo pra mim.
Penso que muito da forma que somos tratados em relacionamentos é reflexo de como nós tratamos a nós mesmos na frente dessas pessoas. Exigir deles um respeito conosco também requer que nós sejamos respeitosos com nossos corpos, para abrirmos precedentes e mostrá-los que aqui não é terra de ninguém. Aqui tem dono, certo?
Dito isso, espero poder continuar transando bem apaixonada, como estou fazendo agora. Mais ainda, espero seguir em mais descobertas. Espero que vocês se cuidem também e se apaixonem em breve, para que possamos pensar isso juntos.
No link abaixo, você pode encontrar as policlínicas da cidade de Niterói, clicando nelas conseguirá encontrar as informações de cada atendimento oferecido.
https://saude.niteroi.rj.gov.br/policlinicas/
Há hospitais de emergência que podem ajudá-los em caso de sexo sem proteção, ou quaiquer outros riscos de infecção, durante o final de semana. Em 72h você está na janela para receber a medicação devida em casos de exposição ao HIV.
Um beijo apaixonado e encapado, até mais!